Santo Domingo de la Calzada, “onde cantou a galinha depois de assada”

Foi em 1158 que se iniciou a construção da catedral que viria a guardar os restos mortais de Santo Domingo de la Calzada. Este monumento possui um riquíssimo espólio artístico, mas, na verdade, poucos se conseguem concentrar nele, porque as atenções se desviam para o galinheiro gótico do século XV com um galo e uma galinha… vivos. Sim, leu bem. Não conhece a lenda por detrás desta excentricidade? Descubra-a aqui.

Galináceos e monumentos religiosos é, à partida, uma combinação improvável, mas em Santo Domingo de la Calzada, na parte oeste da província de La Rioja, aparentemente tudo é possível. Na catedral da cidade, em frente ao túmulo do santo que lhe dá o nome, existe um galinheiro com um galo e uma galinha vivos, que se pavoneiam e cantam para os que por lá passam. Apesar de serem substituídos a cada 15 dias – quem sabe uma exigência dos defensores dos animais mais ávidos –, os galináceos são uma presença na catedral desta terriola do Caminho de Santiago pelo menos desde 1350 e devem-no a uma lenda que vale a pena ser contada…

Na sua jornada em direção a Santiago de Compostela, um casal alemão de peregrinos e o seu filho, Hugonell, decidiram ficar hospedados em Santo Domingo de la Calzada. A filha do dono desse estabelecimento apaixona-se então por Hugonell, mas, ao ver que não era correspondida, esconde um cálice de prata nas vestimentas do jovem para se vingar. No momento em que este se preparava para deixar a cidade, a rapariga denuncia-o e Hugonell acaba por ser condenado à forca por roubo.

No dia seguinte, os pais do jovem peregrino dirigem-se junto ao cadáver para descobrirem que não se tratava de cadáver algum. Hugonell estava, afinal, vivo e dizia ter sido salvo do “rigoroso cordel” pelo Santo Domingo. Felicíssimos, os pais vão ao encontro do corregedor da cidade que, confrontado com o sucedido, se limita a rir e a afirmar que o filho deles estava tão vivo como o galo e a galinha assados que estava prestes a comer. E não é que os animais readquiriram as suas penas e se levantaram do prato a cantar?

Este milagre, retratado numa tábua de Alonso Gallego sobre a entrada da catedral, é a grande justificação para a manutenção de um galinheiro neste local. E a verdade é que, se não fossem os animais, o mais provável é que o edifício não detivesse tanta popularidade e não fosse um ponto de passagem tão emblemático no Caminho de Santiago.

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