Parque Florestal Nacional de Zhangjiajie. O mundo mágico do Shan shui

No Parque Nacional de Zhangjiajie, na China, a ribeira do Chicote Dourado serpenteia montanhas altas e esguias entre vegetação exuberante, plantas exóticas, cascatas cristalinas e animais raros, numa atmosfera natural, peculiar e mágica. Chamam-lhe o vale mais bonito do mundo e o curso de água mais inspirador, numa região que desde o século V inspira pintores e poetas. A pintura Shan shui é descrita por um antigo embaixador chinês em Londres como um veículo filosófico onde os artistas, em vez de pintarem o que viam na natureza, representavam o que pensaram sobre ela. Os picos das montanhas (shan) e a água (shui) formam a palavra que evoca paisagem e que na poesia representa, de alguma forma, a comunicação entre a terra e o céu.

O Parque Florestal Nacional de Zhangjiajie, no norte da província de Hunan, com cerca de 130 quilómetros quadrados, é o mais antigo da República Popular da China e alberga uma concentração única no mundo de formações de arenito de quartzo com cerca de 240 picos, à volta de 3000 pináculos e espirais e mais de 40 grutas, desenvolvidos há aproximadamente 400 milhões de anos. Uma floresta de pedra e de cúpulas, grandiosamente envelhecida pelo tempo, que se ergue entre vales verdejantes, bosques densos, desfiladeiros e ravinas profundos, frequentemente envolta num nevoeiro cénico e inspirador.

Entre as principais áreas visitáveis do parque estão as ribeiras do Chicote Dourado e de Piapa, as aldeias da Pedra Amarela e de Yaozi, o território de Shadaogou, o “jardim escondido” e o Templo de Chaotianguan. Dois equipamentos destacam-se pela popularidade: a ponte de vidro do desfiladeiro de Zhangjiajie, com 430 metros de comprimento e 300 metros acima do solo, e o elevador de Bailong, com dois andares e também envidraçado, que sobe a 326 metros de altura encravado num penhasco.

Aos ruídos dos animais e dos elementos que ecoam nos contornos das montanhas podem-se juntar sons da língua sino-tibetana que permanece oral entre o povo tujia, gente do campo orgulhosa dos seus trajes, arte e danças da região. Há ainda os prantos das noivas tuija, que por tradição se juntam aos familiares num coro de carpidos, que antes se dirigia, feroz, aos casamenteiros e hoje pretende apenas despertar a felicidade do matrimónio através de choros falsamente tristes. Nos casamentos serve-se o tradicional “Sanxiaguo”, habitualmente toucinho, tofu e rabanete, e outros ingredientes, cozidos em lume brando. A cozinha de Hunan, que antes tinha fama de terra do peixe e do arroz, é caraterizada hoje pelas especiarias, onde a malagueta é rainha. Há quem não hesite em classificar a gastronomia da região, que utiliza ingredientes frescos, locais e sazonais, como possuindo o salgado do Norte e o doce do Sul da China.

A cor presente nas vestes tradicionais e nas comidas mistura-se com os verdes, os azuis e os cinzentos da pedra, numa fascinante paisagem bio-diversificada, conhecida por dar abrigo a uma série de espécies vegetais e animais ameaçadas de extinção. É o caso do leopardo-das-nuvens, de faisões, da salamandra gigante, do macaco, do urso preto, do lince, do pato mandarim ou da rã-tigre. O clima ameno desta floresta subtropical e temperada e a precipitação abundante, a par da densidade da vegetação, ajudam à reprodução dos animais e das plantas.

Um ecossistema milenar que pela mão do histórico Mao Tse-Tung, nascido em Shaoshan a pouco mais de 300 km de Zhangjiajie, ficou sob a alçada do “Comité Revolucionário do Condado de Dayong”, e foi reconhecido como o primeiro parque florestal nacional da China em 1982. Dez anos depois foi oficialmente declarado como Património Mundial e, em fevereiro de 2004, classificado como Geoparque Mundial da UNESCO. O “grande timoneiro” da revolução chinesa estava longe de imaginar que em 2010, um dos picos mais altos do Parque Florestal de Zhangjiajie, foi rebaptizado como “Montanha Avatar Hallelujah”, em homenagem ao filme de James Cameron que se inspirou nesta “Shan shui” única e irrepetível.

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