Virgílio Loureiro, antigo professor de Agronomia e decano da enologia lusa define a casta Riesling como “de aroma distinto”, tendo como principal qualidade “a elegância da acidez”. O enólogo aponta a Beira Interior em Portugal como uma das melhores regiões para a produzir, “por vezes ao nível dos melhores exemplos da Alsácia”. A variedade da uva branca é uma das mais conhecidas e apreciadas em toda a “Route des Vins d’Alsace” onde a pequena comunidade de Colmar se assume oficialmente como capital.
A cidade no nordeste de França, também conhecida por “bela da Alsácia”, parece ter saído de um conto medieval e o centro histórico impresso numa sucessão de postais ilustrados que percorrem uma mescla de culturas com o peso da história e da arquitetura.
Entre as cidades de Estrasburgo e Mulhouse, junto ao rio Reno e à fronteira com a Alemanha, Colmar está marcada por um percurso que se foi definindo entre a administração germânica, a ocupação da Suécia, a proteção de França e a anexação da Alemanha por duas vezes, a última das quais durante a II Guerra Mundial. Apesar das guerras e da encruzilhada cultural e administrativa entre a França e a Alemanha, Colmar permaneceu praticamente incólume e como um exemplo raro de longevidade urbana. O esplendor arquitetónico que percorre o período da Idade Média à Renascença revela casas encantadoras de vigas em madeira, edifícios civis e religiosos restaurados ao pormenor, serpenteados por ruelas de calçada, canais encantadores e pequenas pontes ornamentadas com flores.
O bairro que acolhe a “Pequena Veneza” encanta os viajantes quer venham a pé, de bicicleta ou de barco a remos. Nas margens, lado a lado, estão as casas multicolores com grandes vigas de madeira, muitas delas cobertas de gerânios. Talvez uma das mais conhecidas desta localidade francesa, seja a “Maison des Têtes”. construída no início do século XVII para um abastado comerciante de vinhos, que decorou as fachadas com mais de 100 rostos humanos, cabeças de animais, querubins e diabos. A cerca de 500 metros, surge a imponente casa Kern, uma das mais belas construções renascentistas alsacianas. Nas imediações também se visita o edifício da família Pfister, com dois andares e uma torre octogonal, ou ainda a casa Adolph, com janelas em arco e painéis de madeira.
As edificações transformadas em museus ou polos culturais assumem um papel primordial no mapa de Colmar. O Museu Unterlinden, um dos espaços museológicos mais importantes do país instalado num convento dominicano de estilo gótico, acolhe estátuas de pedra, gravuras, pinturas de Monet, Picasso e Renoir, mas a principal atração é o Retábulo de Issenheim, considerado uma das obras religiosas góticas mais relevantes. Na Praça da Catedral, ergue-se com sobriedade a igreja “La collégiale Saint-Martin”, construída com a pedra de Vosges em tons subtis do amarelo ao violeta. A cor faz parte do dia-a-dia da cidade mesmo ao escurecer, quando as mais de mil lâmpadas distribuídas pelas ruas esboçam um espetáculo de luz original que realça detalhes surpreendentes e que ao longo do ano varia em intensidade e coloração.
Colmar orgulha-se da sua capacidade de agradar em qualquer época do ano. É uma das cidades francesas menos afetadas pela chuva por estar perto das montanhas de Vosges que constituem uma barreira às nuvens. Floresce na Primavera, brilha no Verão, enche-se de cores quentes que se multiplicam nas vinhas no Outono e ganha fama no Inverno pelos seus mercados de Natal.
A norte, numa das rotundas da cidade, no olhar sobre uma estátua descobre-se surpreendentemente a figura feminina da deusa romana “Libertas” com uma tocha erguida na mão esquerda e um documento na direita. A cor verde-cobre confirma a réplica da Estátua da Liberdade norte-americana e a razão da sua presença prende-se com um dos ilustres filhos de Colmar: Frédéric-Auguste Bartholdi nasceu em 1834 e a defesa da sua cidade despertou-lhe o sentimento de liberdade que traduziu na estátua-símbolo com que os franceses presentearam os Estados Unidos no final do século XIX. Colmar transformou a casa da família do escultor num museu dedicado à sua obra, mas as criações de Bartholdi estão por todo o centro.
A “bela” Colmar parece saída de uma publicação de “Hansi”, um ilustrador alsaciano chamado Jean Jacques Waltz, também desenhista e caricaturista, que marcou a história cultural da Alsácia com cenas da vida quotidiana, personagens coloridos e um universo alegre e bem-humorado.