Belgrado – A cidade branca que reescreve o seu destino

“A chama do sol que se põe na planície, entre os rios abaixo de Belgrado, reflete-se na cúpula celeste, e aí quebra-se e derrama-se sobre a cidade dispersa”. As impressões do Nobel da Literatura Ivo Andric sobre a capital da Sérvia juntam-se aos inúmeros contos, poemas e relatos de viagem escritos quando foi diplomata nos anos 20 do século passado nas principais cidades da Europa.

 

Descreveu Lisboa no livro “Portugal, terra verde” como uma cidade agitada onde as pessoas são individualmente tranquilas, mas ruidosas em grupo. Um pouco como em Skadarlija, uma zona boémia de Belgrado onde os residentes se divertem como nos velhos tempos em que a Jugoslávia estava na vanguarda do Bloco de Leste, e que ainda hoje se enche de animação e de vida. Da sua história tumultuosa, o povo de Belgrado conservou o seu espírito de liberdade, que mantém a cidade jovem, moderna e com uma energia fervilhante nos seus bares, cafés e restaurantes.

Nesta passagem natural entre o Ocidente e o Oriente, Belgrado ou Beograd, que significa “cidade (grad) branca (beo)”, revela um dos mais importantes monumentos, o Parque Kalemegdan, que alberga a fortaleza erigida sobre o monte em calcário, com vista para a confluência dos dois rios mais importantes da cidade: Danúbio e Sava. A Fortaleza de Belgrado narra a epopeia de uma cidade habitada desde a pré-história. Uma construção celta conhecida pelos romanos como Singidunum (o nome mais antigo de Belgrado), que é hoje um edifício que resulta das reconstruções austro-húngaras e da renovação turca no século XVIII.

No cruzamento de influências orientais, eslavas e austríacas, a cidade forjou a sua própria identidade como capital dos Balcãs. Uma mescla visível nas ruas, praças, monumentos, parques, fontes e sítios arqueológicos, onde se destaca a igreja de Sveti Sava, a catedral ortodoxa de São Marcos. Belgrado divide-se entre a parte alta onde está o Parque Kalemegdan, o Museu Militar, a Torre do Relógio e um dos mais antigos zoológicos europeus, fundado em 1936, com uma área de cerca de seis hectares, com mais de 2000 animais e duas centenas de espécies.

Na cidade baixa, que desce em direção ao rio, estão o impressionante Grande Armazém de Pólvora, o antigo banho turco (Hamam) e as construções modernistas da era socialista. No centro da capital sérvia, o museu da Jugoslávia (cuja palavra significa “terra dos eslavos do Sul”), conserva um acervo de mais de 200 mil peças que serpenteiam a fascinante e atribulada história do país, entre obras de arte, tesouros de valor incalculável, armas, documentos históricos e fotografias. Junto ao núcleo museológico encontra-se o Mausoléu do Marechal Tito – que liderou a antiga Jugoslávia entre o final da Segunda Guerra Mundial até à sua morte em 1980 –, conhecido por Casa das Flores, construído como um jardim de Inverno nas imediações da sua antiga residência.

Apesar das referências visíveis à era soviética e aos conflitos dos anos 90, Belgrado moderna também se constrói no enriquecimento cultural, e alternativo, como na zona de Savamala, com edifícios anteriormente abandonados e degradados, convertidos em bares e centros de arte, o que levou viajantes a apelidar a cidade de “nova Berlim”. A par da arte urbana, a atividade cultural belgradina passa pelas galerias, exposições e por um dos principais pontos de interesse: o Museu de Arte Contemporânea, um edifício modernista dos anos 60 recentemente renovado. Um roteiro de espaços culturais que não esquece o museu de Nikola Tesla, o emigrante servo-croata que foi para os Estados Unidos em 1884. Génio criativo, engenheiro e inventor, revolucionou a produção industrial como precursor do motor de indução, da rádio, ressonância magnética, laser, robótica, raio x, controle remoto e corrente alternada, entre outras descobertas. As cinzas de Tesla estão guardadas no museu em Belgrado numa esfera dourada e brilhante. Nikola Tesla deu o seu nome ao aeroporto da cidade, inspirou uma marca de automóveis global e é a cara da nota de 100 dinares sérvios.

PODERÁ TAMBÉM GOSTAR DE...

Colmar: A mais bela da Alsácia

Malaca: A Famosa

Jeddah – O casamento eterno do Mar Vermelho

Os mosteiros suspensos de Meteora, Grécia