Patagónia: a beleza serena onde Magalhães se cruza com Chatwin
Dois anos depois de ter sido contratado para a revista do jornal inglês Sunday Times, Bruce Chatwin enviou uma carta de despedida ao editor onde se lia simplesmente: “Fui para a Patagónia”.
Num dos seus relatos de viagem sobre a região, conta que viu o rio em direção ao Chile, “que brilhava e deslizava por entre as falésias brancas como ossos, com faixas cultivadas de verde-esmeralda de cada lado”. Sensivelmente a mesma imagem que Fernão Magalhães viu quando atravessou o estreito que lhe tomou o nome. No livro “Na Patagónia”, Chatwin fala dos índios da Terra do Fogo que Magalhães chamou de patagões, supostamente pelo tamanho dos pés, e que batizaram um território, limitado a norte pelo rio Colorado e a sul pelo cabo Horn, como Patagónia.
Além de permitir o acesso entre os dois oceanos, Atlântico e Pacífico, o Estreito de Magalhães separa a América do Sul de um grupo de ilhas conhecido por Terra do Fogo, incluídas na Patagónia, partilhada pela Argentina e Chile, a maior parte com menos de um habitante por quilómetro (km) quadrado. Embora o silêncio e o isolamento sejam palavras-chave nas descrições da região, a diversidade é uma das caraterísticas, muito pela beleza e riqueza das paisagens, dos animais e das localidades improváveis. Em ambos os países, das planícies à cordilheira dos Andes, percebe-se a serenidade nos céus que acolhem montanhas escarpadas, florestas tropicais, costas recortadas, desertos, lagos e rios azul-turquesa, fiordes azuis-esverdeados, glaciares da idade do gelo e áreas selvagens intocadas.
Espaços grandes, tal como os silêncios que os preenchem, quebrados, por exemplo, por um dos glaciares mais acessíveis na Terra, o incontornável Perito Moreno na Argentina, protagonista central do Parque Nacional Los Glaciares. O bloco de gelo, com 30 km de comprimento, cinco de largura e 60 de altura, todos os dias avança até dois metros fazendo com que, por vezes, icebergues do tamanho de edifícios se desprendam. Ao longo do dia, o sol que bate na sua face vai modelando as sombras e a aparência da enorme montanha gelada.
Quase à mesma latitude, no vizinho Chile, surge um impressionante e remoto parque nacional, Laguna San Rafael, onde a estrela é o glaciar San Valentín perto do monte com o mesmo nome, cujo pico, com 4058 metros, é o mais alto dos Andes do sul. Entre as cidades que se incluem na região da Patagónia está a argentina Ushuaia, conhecida como a cidade mais austral do mundo, localizada na Ilha Grande da Terra do Fogo. Ruas íngremes e um porto movimentado explicados no “Museo del Fin del Mundo” construído no início do século XX. Ainda no país do tango destaca-se a cidade costeira de Puerto Madryn, uma das mais importantes para a fauna marinha, onde se incluem baleias e pinguins. As paisagens deslumbrantes de Bariloche – oficialmente San Carlos de Bariloche –, na região dos lagos, propõe atividades de Verão e de Inverno e, segundo especialistas, o melhor chocolate da Argentina. Bem mais a sul, a incrível arte rupestre da Cueva de las Manos, declarada Património Mundial da Unesco, com cerca de 800 pinturas datadas de cerca de 7370 a.C., policromadas, que cobrem reentrâncias nas paredes quase verticais com impressões de mãos humanas, uma delas com seis dedos.
No Chile, a cidade portuária de Punta Arenas, junto ao Estreito de Magalhães, é uma base para explorar a região, com uma inesperada paisagem urbana que junta mansões construídas na altura do boom do algodão, prédios modernos e casas modestas. A norte fica a cidade de Puerto Natales, porta de entrada do Parque Nacional Torres del Paine. As “torres”, montanhas de granito escarpadas que se elevam quase verticalmente, escondem lagos e florestas, do azul ao verde-esmeralda. Nas estepes, os guanacos, nos picos montanhosos, os condores andinos.
No dramatismo quase irreal da paisagem da Patagónia, Fernão Magalhães abriu caminhos para Bruce Chatwin e outros exploradores e estudiosos, alguns que emprestaram o seu nome a montes, cordilheiras e cabos, como o jovem naturalista Charles Darwin ou o seu comandante na embarcação “Beagle”, Fitz Roy. Apesar de tudo, ainda muito para descobrir.
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