VIAGEM EM GRUPO | Viagem de Autor com Joaquim Magalhães de Castro
Terra de mosteiros, monges e passos de montanha, o remoto Ladaque é local obrigatório na lista dos verdadeiros amantes da natureza e espíritos mais aventureiros.
Em termos estatísticos uma das regiões mais altas do planeta, caracterizam geograficamente o Ladaque vales profundos, generosos cursos de água, lagos serenos e ousadas estradas que desafiam a mais enigmática das orografias.
Os extensos planaltos bastante acidentados e de grande aridez são ocasionalmente pontuados por oásis verdes que se prolongam pelas margens dos rios – Indo, Tsarap, Suru… – e acolhem aldeias isoladas, protegidas pelas montanhas de listras multicores, em primeiro plano e, como pano de fundo, os sempre eternos cumes cobertos de neve.
Verdade seja dita: neste lugar de aventura e espiritualidade resta ainda intacta muita da beleza de antigamente. A paisagem do Ladaque é, literalmente, ‘uma coisa do outro mundo’.
Escondido num recanto do noroeste da Índia, o Ladaque mereceu ao longo dos tempos diversas designações. Reino de Mariul, Pequeno Tibete ou Grande Tibete, a verdade é que o Ladaque mais não é que o prolongamento natural do planalto tibetano. E os ladakhis – etnicamente distintos das demais etnias do subcontinente – permanecem hoje guardiões por excelência de uma cultura única, a tibetana, infelizmente algo desvanescente/descaracterizada no seio dos limites geográficos da designada Região Autónoma do Tibete.
O dialecto falado pelos ladakhis é mais antigo do que o usado pelo nativos do Utsang, Tibete Central, onde se solidificou e posteriormente expandiu aquele que já foi um imenso império e cujas fronteiras se estendiam aos confins dos desertos da Mongólia e da Ásia Central.
O Ladaque é, de certa forma, uma versão em pequena escala do Tibete; e, em variadíssimos aspectos, bem mais autêntico, por sinal. Aqui, aparentemente, não arriscam os locais – como acontece nas grandes cidades de Lhasa e Xigatse – virem a ser minoria em terra própria.
O budismo transitou das planícies da Índia para o Tibete via Ladaque, deixando ali a sua marca. A par de toda uma plêiade de paisagens de cortar a respiração – no topo da lista das atracções turísticas – estão os mosteiros. E há muito por onde escolher: praticamente um mosteiro por povoado. Thikse (um dos mais belos), Hemis (o mais rico) e Alchi (um dos mais antigos) são apenas três dos muitos com que nos confrontamos, seja qual fôr o período de tempo que passemos naquelas paragens.
Os aficionados pela história, esses, ficarão certamente fascinados pelos palácios dos antigos reis, as fortalezas em ruínas, as caves dos eremitas, as pinturas rupestres pré-históricas e o espírito das caravanas de antanho, ainda hoje presente em locais como o mercado de Leh, por exemplo.
Caminhos sinuosos, dias passados em viagem, panoramas que se vão alterando, por vezes áridos e rochosos, outros de uma exuberância surpreendente. Tudo sob uma intensa luz solar que ilumina planaltos como o de Changthang e os seus cintilantes lagos salgados de um azul-turquesa-esverdeado.
Com frequência somos acometidos por aquela sensação de estarmos num outro tempo, numa outra dimensão, se bem que as aldeias e as pessoas que nos surgem pela frente nos remetam para o hoje e o agora.
E aí estão elas, as gentes do Ladakh. Amigáveis, serenas, discretas, agrestes sem serem hostis. Como a terra onde habitam. Nos seus rostos e pele as marcas profundas de uma vida exposta ao vento glacial ou ao sol escaldante. Os ladakhis – em termos étnicos uma mistura de dards indo-arianos e migrantes tibetanos de tempos pré-medievais – são pessoas de sorriso fácil, mesmo em plena actividade laboral, e o ocasional encontro com um deles é, quase de certeza, agradável memória que perdurará no tempo.
Preparem-se para dias e dias de um céu de azul cobalto, noites de Via-Lácteas, eremitérios empoleirados nos penhascos, gente de sorriso luminoso.
Assim é o mais misterioso dos reinos: espaço geográfico quase intocado pelo mundo moderno e com caminhos de acesso que só muito recentemente se abriram.
Obrigatório se torna destacar neste intróito o vale de Zanskar, o segredo mais bem guardado do Ladakh, pérola encaixada entre os Himalaias e o Hindu Kush, destino verdadeiramente singular. Autenticidade é a palavra que melhor o define e o intrigante mosteiro de Pukhtal uma surpresa que a todos deixará boquiabertos. É caso para dizer: visite o vale do Zanskar antes que seja tarde.
Então, está preparado para fazer uma viagem no tempo?! Sim? Então, acompanhe-me nesta memorável jornada às deslumbrantes e inigualáveis regiões do Ladakh, Zanskar, Lahul Spiti e Himachel Pradesh.
PROGRAMA
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No aeroporto teremos oportunidade de nos conhecermos e trocarmos algumas impressões acerca da magnífica região do planeta que teremos o privilégio de visitar nas próximas três semanas. O nosso voo tem como destino Shimla, via uma cidade europeia e Nova Deli.
Chegada a Shimla, capital da província do Himachel Pradesh. Durante a época colonial, os ingleses utilizavam esta cidade (2.276 metros) como estância de veraneio para fugirem à canícula das planícies hindustânicas. Muitas outras cidades, espalhadas pelos contrafortes dos Himalaias, eram utilizadas com esse intuito. Ao longo do Ridge, o coração de Shimla, usufruímos de privilegiadas vistas panorâmicas das montanhas circundantes. Visitaremos aí o templo de Jakhoo, dedicado a Hanuman, o deus-macaco, situado no ponto mais alto da cidade, e ainda a afamada Mall Road, conhecida pelas suas lojas, cafés e arquitectura colonial.
Noite – Dormida no WH Elysium Resort & Spa ou similar.
Shimla
Iniciaremos hoje a primeira etapa de uma viagem na famosa “Hindustan-Tibet Highway” tendo como destino final o vale de Sangla, um dos segredos mais bem guardados do Himachal Pradesh. Uma jornada que é uma aventura em si. A estrada, em constante zigue-zague, surpreendendo-nos a cada curva. Montanhas imponentes e vales profundos; e, a partir de Kumarsain, temos por companhia o rio Sutlej; ora à nossa direita, ora à nossa esquerda. Kinnaur Kailash (6.500) – uma das “Cinco Kailash”, todas elas sagradas, venerada por hindus e budistas, é confundida não raras vezes com o Kailash tibetano, o mitológico Monte Meru. O seu peculiar perfil acompanhar-nos-á ao longo do bonito vale de Sangla, terra de riachos e pomares – afamadas as maçãs destas paragens, e uma ou outra preciosidade histórica. É o caso do forte de Kamru, todo em madeira. A vinte quilómetros dali, Chitkul, a última povoação antes da fronteira indo-tibetana. Uma caminhada nas margens do Baspa é inolvidável passeio. Aqui se respira o ar mais puro de toda a Índia!
Noite – Dormida no Kinner Camp ou similar.
Forte de Kamru
Retomamos o ‘Hindustan-Tibet Highway’ até, um pouco antes da aldeia de Nako, assinalarmos o desvio para a antiga Rota da Seda do Himalaia Ocidental que ao longo dos séculos facilitou o comércio entre a Índia e o Tibete. Ela culmina no passo de Shipki La (4200m), o posto transfronteiriço sino-indiano, usado apenas para troca de produtos como lã, seda crua, pelo de iaque, argila da China, bórax, manteiga, sal comum, cavalos, cabras, ovelhas, roupas prontas, sapatos, colchas, cobertores, tapetes e remédios fitoterápicos. Foi este o caminho utilizado pela terceira leva de jesuítas portugueses que em Abril de 1626 da Índia viajou até Tsaparang, no reino de Guge, onde fora aberta uma missão católica. Um dos participantes, padre João Godinho, deixou um relato escrito sobre essa aventura, que inauguraria a terceira das cinco rotas europeias para o Tibete, via cordilheira dos Himalaias. Após Nako deixamos o Sutlej e passamos a seguir as margens do Spiti até Tabo, onde pernoitaremos. Se houver tempo, faremos um desvio para visitar a aldeia de Gue, conhecida pela múmia de um monge – que terá 500 a 600 anos de existência – exibido ao público numa vitrina.
Noite – Dormida no Echor Mud Huts ou similar.
O mosteiro de Tabo, datado do século X, pela beleza dos seus frescos e murais bem merece o epíteto pelo qual é conhecido: ‘Ajanta dos Himalaias’. Na verdade, é o mais antigo convento tibetano da Índia e local predilecto do Dalai Lama, que ali faz muitos retiros espirituais. Onde o rio Spiti se faz lago há um desvio que nos levará até à aldeia de Dhankar, conhecida pelas suas redondezas ricas em fósseis e uma grande estátua de Buda. Construído há mil anos e com vista para a confluência dos rios Spiti e Pin, o mosteiro local consta na lista dos ‘100 monumentos mais ameaçados do mundo’. Seguiremos por essa estrada interior antes de retomarmos a via principal; em breve chegaremos a Kaza, a principal cidade do vale de Spiti.
Noite – Dormida no Grand Devachan ou similar.
Tabo
Rudyard Kipling descreveu a região de Lahaul e Spiti como ‘um mundo dentro do mundo’. A observação de estrelas é no vale de Spiti uma experiência bastante popular entre os visitantes. Nas noites límpidas o firmamento surge cravejado com milhões de pontinhos luminosos, quais diamantes cintilantes. São reputados os coloridos festivais religiosos de Kaza, e também o seu principal mosteiro: Sakya Tangyud. É considerado local ideal para aprender os princípios teóricos e práticos da filosofia budista. Visitá-lo-emos no decurso de um circuito de um dia que nos levará também a Hikkim, de onde poderemos enviar um postal aos nossos amigos ou familiares, pois aqui se situa o posto de correio mais alto do mundo. Haverá ainda tempo para apreciar a beleza e autenticidade das pitorescas aldeias de Komic e Langza, ambas com os respectivos eremitérios. Langza, 136 habitantes apenas, é conhecida como a ‘aldeia fóssil’ do vale de Spiti
Efectuaremos hoje um segundo circuito na região; logo de manhã, visita ao maior edifício religioso. Datado do século XI, o mosteiro Key é conhecido pela sua deslumbrante arquitectura e valiosa colecção de livros e frescos. Funciona como centro de treino na vida religiosa para os 300 lamas que ali residem. Nas redondezas, o Parque Nacional do Vale de Pin – a sua altitude varia entre os 3500 e 6000 metros – abriga espécies raras como o íbex e o famoso (e infelizmente ameaçado) leopardo-das-neves. Cercada por pitorescas montanhas e áridas paisagens, Kibber (4270m), orgulha-se do título: ‘povoação com estrada motorizada mais alta do mundo’. Também o mosteiro local lhe traz reputação internacional, assim como o seu parque natural, o Kibber Wildlife Santuary, habitat do lobo tibetano.
Hoje teremos uma longa e algo acidentada jornada pela frente, certamente compensada pelas belas paisagens. Mas antes aprecie o ‘vale das pirâmides’, um belo pedaço de paisagem assim designada devido à erosão, e a aldeia de Losar, onde o rio Spiti se volta a fazer mar. Teremos pela frente um colo de alta altitude, o Kunzum La (4590m), caracterizado por um peculiar conjunto de stupas. Sinuosa estrada conduz-nos até a Jispa, primeiro com a natureza na pequena vila de Sissu, assinalada por uma magnífica cascata, e logo a seguir com a história, através do bonito forte de Gondhala. Seguiremos os meandros dos rios Chandra e Bhaga, até Keylong – capital da região de Lahul, um refúgio de serenidade; quadro em constante alteração de cores.
Noite – Dormida no Padma Lodge ou similar.
Hoje, ainda em plena região tribal, temos pela frente um percurso pouco convencional. Estradas com raro trânsito e um primeiro desafio: Shinku La (5090m) é recente porta de entrada para o vale de Zanskar. As montanhas são áridas e abundam os fios de água resultantes do degelo que há que atravessar, num piso – é bom lembrar – por asfaltar. Rareia o ar à medida que se avança para o topo da montanha. Contrariamente ao habitual, estende-se ao longo de vários quilómetros. Na descida, acompanha-nos o rio Zanskar, os iaques, os prados e os picos de neves eternas. Antes de chegarmos a Kargaik (4200m), prima povoação, surge, imponente, Gombo Ranjan, para os nativos do Zanskar, a mais sagrada das montanhas. Estamos perante uma das definições do paraíso: dir-se-ia, a paisagem, um quadro a ser pintado à nossa frente: mundo onírico interrompido pela realidade das aldeolas que surgem aqui e acolá.
Noite – Dormida no Homestay ou similar.
A beleza e a tranquilidade de Purne – a localidade aonde chegamos – são motivo, por si só, para uma agradável permanência. Corre farto o rio; e as pessoas são gentis. Mas é à distância de uma curta e apetecível caminhada que nos aguarda a surpresa: Phuktal, um dos eremitérios mais isolados e misteriosos do planeta. Cortado verticalmente na montanha, parecendo fazer parte dela, difícil é encontrar palavras que o descrevam na sua essência. É, de facto, um lugar muito especial. Lembro-me de aqui ter pernoitado duas noites, numa época em que só uma caminhada de vários dias permitia a entrada nesta parte do mundo. Não havia então troços asfaltados no Zanskar e a única via de acesso à capital Padum fazia-se por um estradão de terra batida. O complexo monástico de Phuktal, impressionante exemplo da arquitectura tradicional budista tibetana, inclui salas de oração, aposentos para monges, locais de meditação e uma biblioteca, todos interligados por uma rede de cavernas e passagens. Regressamos a Purne ao início da tarde, para depois seguirmos até Padum. Uma jornada de 3 horas que nos leva a várias aldeias com paragens nos mosteiros de Mune (Munay) e Bardan.
Noite – Dormida no Potala ou similar.
Phuktal
Hoje passamos o dia no bonito vale de Padum, a maior cidade do Zanskar. Oportunidade de presenciar a amálgama de culturas aqui presentes. Hindus, budistas, muçulmanos e até cristãos coexistem em paz e respeito mútuo. Nos arredores da cidade não faltam motivos de interesse. De ordem natural – é o caso da singela cascata de Sheela – ou de perfil arquitectural. Falemos dos complexos monásticos de Stongdey e Karsha. Este, um dos mais significativos da região, reputado pela sua colecção de artefatos religiosos, thangkas e murais. Aquele, testemunho da rica herança budista local. Fundado no século XIV, Stongdey é santuário espiritual reverenciado e importante centro de divulgação dos ensinamentos budistas. Em termos estritamente humanos, as aldeias de Pipiting e Icher, esta última senhora de uma afamada estátua do Maitreya, ‘Buda do futuro’.
Longo é o percurso que temos hoje pela frente. A uns quilómetros de Padum visita a aldeia de Sani e ao seu muito venerado mosteiro. Mais adiante, novo marco religioso: a gompa de Tungri, residência feminina. Vivem aí 11 monjas apenas. Mas ainda há mais. Do outro lado do rio, Dzongkul, ao estilo de Phuktal, certamente vale a desvio. Uma estrada bem pavimentada com o rio Stod a fazer-nos companhia. Rumo ao vale de Suru nova paragem se justifica. Desta feita, e após subida considerável, junto ao glaciar de Drang Drung, o maior do Ladaque, cuja massa alva, mesmo no pico do Verão, nunca decepciona. Havendo tempo, faz-se uma pequena caminhada para o sentirmos debaixo dos pés. Sublime, a panorâmica em redor. Novo obstáculo, o passo de Pensi La (4.400 metros) – outra das portas de entrada do Zanskar. Existem aqui sete pequenos e bonitos lagos, mesmo à mão de semear. Estamos em terreno inóspito; e antes de acedermos ao vale que adoptou o nome desse rio visitamos Rangdum, basicamente um convento postado numa colina que domina todas as atenções e oferece vistas deslumbrantes sobre a paisagem circundante.
Noite – Dormida no Homestay ou similar.
A beleza do vale de Suru – a uma altitude média de 3.000 metros; ladeado com neves eternas – fala por si. E é certamente aposta ganha despender tempo a explorar alguns dos seus recantos. A exuberante vegetação e abundância de árvores granjeou-lhe a alcunha ‘Gulmarg do Ladaque’.
Este é já universo islâmico. Quase toda a população do vale de Suru é partidária do xiismo. A aldeiazinha de Sankoo, habitada desde meados do século XVI, mantém um pitoresco mercado. De destacar nas redondezas as ruínas do castelo de Kartse Khar – sede de um principado pré-islâmico que outrora ali governou – e, perto dele, uma estátua do Gautama esculpida na rocha. Data do século VII, prova inegável da influência budista na região. Outros motivos de interesse: o glaciar Parcachik – perfeitamente visível, a uma centena de metros da estrada. Enfim, o local ideal para caminhadas e demais actividades ao ar livre, mais ou menos radicais.
Noite – Dormida no Highland Mountain Resort & Spa ou similar.
Depois da pernoita em Kargil, junto à fronteira com o Paquistão e onde experienciamos a cultura muçulmana do Ladaque, espera-nos um longo dia com dois passos de montanha e fascinantes sítios históricos antes de chegarmos ao nosso destino: Leh. Mas antes, retomamos contacto com o universo tibetano. Para atrás fica o Suru; seguimos agora o leito do Indo. Primeira etapa em Shargole, aldeia com um admirável eremitério embutido na parede da montanha; logo depois, Mulbekh Serdung, com abadia equilibrista e um Buda Maitreya em alto-relevo na rocha. Não nos pára de surpreender, este mágico Ladakh. Lamayuru é conhecida pelo seu convento e típica paisagem ‘lunar’, na verdade, bizarras formações geológicas fruto da erosão. No interior da gompa, alguns belos frescos, máscaras assustadoras. Segue-se o mosteiro de Rizong, literalmente encaixado entre os montes; as caves de Saspol, com extraordinárias pinturas; e os milenares mosteiros de Alchi e Likir, este encavalitado no cimo de uma colina. Em Basgo, outrora importante entreposto comercial na antiga Rota da Seda, viveu nos primórdios do século XVII o mercador português Diogo de Almeida. Ele foi o primeiro ocidental a ter contacto directo com uma realidade geográfica de cultura nitidamente tibetana. Restam agora as ruínas da fortaleza e um convento operacional.
Noite – Dormida no Padma Ladakh ou similar.
A cidade de Leh e os Himalaias, vistos do Palácio Real
O dia de hoje é dedicado à capital do Ladakh, com uma população de 100 mil habitantes. A nossa visita começa na fortaleza e no Palácio Real, fundado por Seenge Nyamgal, o monarca que em 1631 recebeu os padres Azevedo e Oliveira. Cá em baixo, no coração da cidade, tempo para apreciar a beleza arquitectónica da mesquita Jama (construída já após a passagem de Azevedo e Oliveira) e deixarmo-nos envolver no burburinho do mercado local. Visitar gompas é a chave para entender a cultura ladaqui, pois a religião desempenha um papel primordial no modo de vida local, daí que faça sentido aproveitarmos a parte de tarde para visitarmos uma série de mosteiros nos arredores de Leh. A saber, Phyang, Thiksey, Shey e Hemis. Assinala Phyang os interiores adornados com frescos antigos. Thiksey, empoleirada numa colina, é joía arquitectural guardiã de inúmeras relíquias. Serve de residência a rigorosos monges, nos estudos e na meditação. Na aldeia de Shey, rodeada de campos e árvores, situa-se a antiga residência de Verão da família real. Visitaremos ainda Hemis, o mais importante mosteiro do Ladakh.
Leh
Hoje temos o dia mais longo da nossa aventura! Saímos de Leh bem cedo de manhã para chegar ao vilório de Hanle antes do anoitecer. Apesar da distância, haverá tempo para visitar pelo caminho mais alguns locais de referência do lamaísmo tibetano – os icónicos mosteiros de Stakna e Chemrey – e a aldeia de Gya, que foi já capital de reino autónomo do Ladaque. A aventura continua em direção ao passo Tanglang La (5328m). Desafiadora estrada até ao topo; paisagens que transcendem a imaginação. Sentimo-nos verdadeiramente no topo do mundo. Gya é já a seguir. Ali se detiverem, na ida e vinda de Leh, os padres Azevedo e Oliveira. As ruínas junto à gompa local – que tinha também a função de castelo na altura da visita desses portugueses – mais do que local histórico é testemunho vivo da duradoura herança espiritual do Ladaque. Seguimos depois para Hanle. Esta noite poderemos apreciar a Via Láctea em todo o seu esplendor.
Noite – Dormida no Hanle House Boutique Homestay ou similar.
Hanle foi outrora importante ponto de passagem de uma rota comercial entretanto interrompida, pois a linha fronteiriça disputada entre a Índia e a China está apenas a 19 quilómetros dali. Numa colina próxima está instalado o Observatório Astronómico Indiano, facto que atrai inúmeros curiosos: Hanle é o melhor local, em toda Índia, para observar a Via Láctea e restante firmamento. A gompa de Hanle – mais fortaleza do que edifício religioso – foi usado para repelir ataques dos reinos vizinhos de Rudok e Guge. Teremos tempo de lhe dar uma vista de olhos antes de retomarmos a nossa viagem por espaço selvagem de grande altitude – o planalto de Changthang. Este é o habitat natural dos changpa, nómadas vindos da região do Ngari, Tibete Central, no século VIII. Visitamos pelo caminho o Tso Moriri, um dos mais belos, calmos e sagrados lagos de alta montanha na Índia.
Noite – Dormida no Korzok Eco Lodge ou similar.
De lago a lago. Do Tso Tomori ao Tsor Kar, junto à estrada Leh-Manali e que Azevedo descreve como uma “marinha de branco e formoso sal”. A longa viagem de hoje é marcada por várias ‘experiências montanha-russa’. As estradas sinuosas, entre picos nevados e vastos planaltos, presenteia-nos com panoramas de cortar a respiração. Colos de Lachung-La (5065m) e Nakeela-La (4738m) e ainda uma série de 21 curvas fechadas, o Gata Loops. Finalmente, o Barachala La (4890m) que se estende ao longo de 8 quilómetros. Podemos imaginar as dificuldades vividas pelos dois jesuítas que durante dias “caminharam por um deserto de montanhas e serranias sem nelas vermos pessoa alguma, atravessando ribeiras e rios encaramelados”. Azevedo menciona, no cume de uma grande serra, “um tanque em que se podem menear 200 navios”. Ora, esse só pode ser o Suraj Taal (4880m), um enorme lago que recebe a água dos glaciares a montante. A jusante, o Deepk Taal, “lago da luz” (3750m). Darcha é o primeiro local habitado “do Reino de Culu”, que surgiria para os dois padres como a Terra Prometida depois de tantos e variados sacrifícios.
Noite – Dormida no Padma Lodge ou similar.
A caminho de Manali novo encontro com a história: o palácio de , milenar testemunho da herança cultural das gentes de Lahaul. É um edifício de sete andares com escadas de madeira e uma varanda no topo. Atravessaremos o longo túnel de Atal, proeza de engenharia, evitando assim o difícil passo de Rohtang, antes do merecido descanso em Manali, uma das mais concorridas estâncias turísticas do norte da Índia.
Noite – Dormida no Manu Allaya Resort & Spa ou similar.
Costumes tibetanos na região do Ladaque.
Em Manali visitaremos os templos de Hadimba e de Manu – este, figura proeminente na mitologia hindu – e a fonte termal Nehru Kund, num cenário idílico cercado por exuberante vegetação. Logo depois desceremos o longo vale de Kulu, sempre com o rio Beas presente. Pelo caminho, Nagar, antiga capital do reino de Kulu, como bem expressa o seu castelo. Já o palacete onde viveu o pintor e explorador russo Nicholas Roerich, esse, simboliza na perfeição o passado recente da cidade. Após a nossa passagem por Mandi, o reencontro com o rio Sutlej, e, já na planície do Punjab, junto a Patiala, impõe-se uma visita a Shambhu Serai, um desses caravançarais distribuídos ao longo da Estrada Real mogol que o padre Francisco de Azevedo tão bem descreveu. Pernoitaremos na moderna cidade de Chandigar, desenhada pelo arquitecto Le Courbisier.
Noite – Dormida no Novotel ou similar.
Manhã livre. O voo Chandigar-Deli é de 55 minutos apenas e, depois aproveitamos o conforto do hotel Vivanta by Taj Dwarka ou similar, para descanso. Regressamos, esta mesma noite, a Portugal.
Chegada a Portugal. Fim da viagem.
A região do Ladaque e o vizinho Himachel Pradesh é território que me é por demais familiar.
Nele fiz incontáveis caminhadas, em sucessivos trekkings de semanas a fio, percorrendo vales, passos e encostas de montanhas, buscando alojamento nas aldeias entre os locais. Não só porque na altura raramente havia alternativa comercial, mas porque essa era a forma de melhor entrar em contacto directo com aquela gente. E eu queria-os conhecer de perto e vivenciar o seu dia à dia. Como estratégia abordava as pessoas que trabalhavam nos campos oferecendo a minha ajuda. E eles, é claro, sensibilizados pelo gesto logo me convidavam a ficar e a partilhar com eles as suas refeições, oferecendo-me depois um local para pernoitar.
Fi-lo entre camponeses e pastores; fi-lo entre as comunidades monásticas de lamas de diferentes linhagens. De uns e outros angariei experiências únicas que agora, nesta revisita a esses locais, gostaria de poder partilhar com todos vocês.
O cenário, é certo, pouco mudou. Felizmente. Mudaram, isso sim, as condições de viagem. Pavimentaram-se as estradas, abriram-se hotéis e pensões, chegaram em debandada os turistas da Índia, sobretudo motociclistas que fazem do Ladaque a sua Rota 66.
Hoje em dia, até nos locais mais remotos e improváveis deparamos com um qualquer tipo de alojamento, por mais básico que seja. Remedeiam sempre em última instância, os ‘homestays’ de condição humilde… Que mais não são do que casas de pessoas que dessa forma buscam sustento extra que compense os magros rendimentos.
Aquilo que mais me deixou fascinado há 30 anos, fascinante permanece, até porque tenho refeito muitas dessas caminhadas nos últimos anos. Há inúmeros locais do Ladaque que parecem imunes à cruel passagem do tempo. É um facto.
Tomemos como exemplo os eremitérios de montanha, que do padre Francisco de Azevedo merecem a melhor das descrições. Depois de uma extenuante viagem de vários dias ele e o eu companheiro de viagem chegaram a uma povoação “aberta em criptas e cavernas”, nas quais moravam os habitantes. Sanze, era o nome da aldeia. E a fortaleza/mosteiro que os portugueses viram no cume de um monte, pareceu a Azevedo “uma cidade de presépio”.
Assim são, de facto, a maioria dos eremitérios e mosteiros que avistamos nos diferentes espaços geográfico do Ladaque: autênticos presépios com casas brancas e vermelhas a destacarem-se numa paisagem marcada pelas montanhas e um céu intensamente azul.
Também no Ladaque foram os portugueses a pioneira gente europeia.
Primeiro, na pessoa de Diogo de Almeida, comerciante e explorador que algures na transição do século XVI para o XVII residiu durante dois anos em Basgo, a capital de um dos dois reinos da região. Almeida designava o soberano local, Jamiang Namgyal, de Tammiguia; e quando regressou a Goa, em 1603, garantiu ao arcebispo Aleixo de Meneses ter lá deparado com uma comunidade cristã. Este, descreve a viagem de Almeida no seu livro “Jornada do Arcebispo de Goa”, publicado em 1606, em Coimbra. Dizia o comerciante que os tibetanos tinham “muitas igrejas ricamente decoradas, com pinturas nos altares e imagens de Jesus, Nossa Senhora e os Apóstolos.” Tinham também muitos padres, que eram celibatários e se vestiam como os religiosos ocidentais. Com uma só diferença: rapavam a cabeça. Almeida fala ainda da presença de um bispo, a que chamavam ‘lamão’ – provavelmente a menção mais antiga à designação ‘lama’ no Ocidente…
Homem do seu tempo, imbuído pelos mitos medievais do reino do Cataio e do Preste João, Diogo de Almeida confundia o budismo tibetano praticado além Himalaias como uma forma abastardada de cristianismo.
Em Abril de 1625, estabelecida já uma missão católica em Tsaparang, capital do reino de Guge, quatro jesuítas liderados por Manuel Marques inauguram nova rota para o Tibete. Entram pelos contrafortes dos Himalaias, no actual Himachel Pradesh, e ultrapassam o colo de Shipki La, que devido à sua (relativa) baixa altitude, 4700 metros, era transitável o ano inteiro.
Seis anos depois, em 1631, assistimos a nova visita lusitana. A 30 de Outubro desse ano dois padres jesuítas, Francisco de Azevedo e João de Oliveira, eram recebidos no palácio imperial de Leh por Sengge Namgyal, o mais importante soberano da história do Ladaque. Azevedo fora nomeado Visitador da missão católica estabelecida anos antes em Tsaparang, capital do reino de Guge, no Tibete Central – cidade entretanto conquistada por Sengge Namgyal –, e tentava em Leh obter as boas graças desse soberano tendo em vista uma possível reabertura da missão católica.
Fervoroso budista, Sengge Namgyal destacar-se-ia pela sua incansável tarefa de construção de mosteiros, palácios e santuários por todo o Ladaque, onde tem o cognome de Rei Leão.
Azevedo e Oliveira empreenderam a sua viagem do Tibete Ocidental até o Ladaque já no final do Outono, e só após conseguirem de Sengge Namgyal a garantia de que poderiam continuar a pregar o Cristianismo naquelas paragens, decidiram regressar às planícies da Índia, onde estavam sedeados. Porém, devido ao adiantado da época, optaram por tentar uma nova rota via reino de Kulu, hoje Himachel Pradesh, fazendo aquilo que nenhum outro europeu fizera antes.
Essa rota é hoje uma das estradas mais míticas do norte da Índia, a desafiante estrada de alta montanha Leh-Manali, utilizada anualmente por milhares de viajantes e amantes dos grandes espaços selvagens.
Ora, um dos propósitos desta nossa viagem ao Ladaque, além das visitas aos sítios mais icónicos desse paradisíaco pedaço de terra, é precisamente relembrar o feito dos bravos portugueses, percorrendo grande parte do percurso que eles fizeram, dando especial realce ao protagonista: o jesuíta lisboeta Francisco de Azevedo, que nos legou, numa sumarenta e muito curiosa carta endereçada ao Provincial de Goa, informações preciosas acerca dessa até então desconhecida parte do mundo. Depois de Azevedo e Oliveira, só no século XIX outros viajantes europeus percorreriam a dita rota.
Só que ao contrário dos jesuítas setecencistas, nós viajaremos no final da Primavera, logo após o degelo, a altura ideal para o fazer. E em condições de conforto infinitamente superiores, como é óbvio.
PREÇO POR PESSOA EM QUARTO DUPLO: 7.555 €
SUPLEMENTO Quarto individual: 1.200€
SINAL: 2.265€
O PREÇO INCLUI:
• Assistência nas formalidades de embarque;
• Passagem aérea em classe económica Porto ou Lisboa / Nova Deli / Porto ou Lisboa em voo Lufthansa, com direito a uma peça de bagagem até 23kg e respetivas taxas de aeroporto, segurança e combustível (105€*):
Porto – Munique (duração aproximada 02h50)
OU
Lisboa – Munique (duração aproximada 03h05)
Munique – Deli (duração aproximada 07h40)
Deli – Munique (duração aproximada 08h15)
Munique – Lisboa (duração aproximada 03h20)
OU
Munique – Porto (duração aproximada 03h00);
• Voo interno em classe económica Deli / Shimla e Chandigargh / Deli, com direito a 15kg de bagagem e respetivas taxas de aeroporto, segurança e combustível (50€*):
Deli / Shimla (duração aproximada 01h15)
Chandigargh / Deli duração aproximada 00h55);
• Transferes aeroporto / hotel / aeroporto em autocarro de turismo;
• Circuito efetuado em carrinhas 4×4;
• Alojamento e pequeno-almoço nos hotéis mencionados ou similares;
• Pensão completa, desde o almoço do 2º ao jantar do 21º dia (20 almoços, tipo lunch-box, e 20 jantares).
• Acompanhamento por nosso Autor durante todo o circuito, desde e até um dos aeroportos de partida (Porto ou Lisboa) – Joaquim Magalhães de Castro;
• Acompanhamento por guia Pinto Lopes Viagens durante todo o circuito, desde e até um dos aeroportos de partida (Porto ou Lisboa);
• Guia local falando Espanhol;
• Visitas e entradas conforme mencionadas no programa;
• Vistos de entrada na Índia (25 usd);
• Gratificações a guias e motoristas locais;
• Taxas hoteleiras, serviços e IVA;
• Seguro Multiviagens PLUS.
O PREÇO EXCLUI:
• Bebidas às refeições;
• Opcionais, extras de carácter particular e tudo o que não estiver mencionado como incluído.
• Condições específicas de cancelamento por parte do viajante:
– Até aos 75 dias antes da partida – 0
– De 74 a 45 dias antes da partida – 30% do custo total da viagem;
– De 44 a 30 dias antes da partida – 50% do custo total da viagem;
– De 29 a 15 dias antes da partida – 75% do custo total da viagem;
– De 14 a 0 dias antes da partida – 100% do custo total da viagem.
Salvaguardam-se as situações cobertas ao abrigo da nossa apólice de seguro de viagem no capítulo Cancelamento Antecipado.
• Condições gerais Pinto Lopes Viagens: Consulte aqui
• Informação relativa aos nossos Seguros de Viagem: Consulte aqui
• Recomendamos Consulta do Viajante;
• Joaquim Magalhães de Castro rejeita a grafia do NAO.
• Programa elaborado a 14 de janeiro de 2025.
• Preço da viagem sujeito a flutuações cambiais.
• Ao viajar pelo Ladaque, deve sempre ter em mente que as instalações e serviços hoteleiros, e também a alimentação, não serão do mesmo padrão a que está habituado.
• O Ladaque é uma região do norte da Índia remota, isolada, de grande altitude e ainda, de certa forma, subdesenvolvida. No entanto, com a rápida expansão do turismo, as condições de alojamento melhoraram nos últimos anos. Se nas cidades de Shimla, Kargil, Leh, Manali e Chandigar teremos à disposição modernos e confortáveis hotéis, nos restantes locais a oferta irá ficar aquém do esperado, se bem que asseguraremos sempre a melhor qualidade disponível. O mesmo irá acontecer com os locais de refeição em percurso que serão servidos em estruturas muito simples e básicas.
• Os pequenos almoços em alguns hotéis estão em conformidade com a cultura local, pelo que produtos como café, pão, manteiga ou fruta poderão não estar disponíveis.
• Nalguns casos a ausência de restaurantes em percurso, vai-nos obrigar a recorrer a almoços tipo picnic confecionados pela organização.
• A grande altitude – iremos passar dezenas de colos de montanha – é um importante aspecto a ter em conta. Necessário será fazermo-nos acompanhar por medicação adequada à prevenção do AMS, situação clínica designada entre nós como “mal de montanha”.
• Recordar ainda que esta é uma viagem que obriga, de quando em vez, a madrugar e na qual se percorrem várias centenas de quilómetros por dia. Uma parte considerável das estradas que iremos percorrer não se encontram asfaltadas, daí que possamos contar com a excitante sensação de sermos protagonistas de uma verdadeira expedição. Compensa o cansaço (e até algum, por vezes, desconforto) a magnitude das paisagens que desfilam perante os nossos olhos. Paisagens de cortar a respiração, tal é a sua beleza.
• Obrigatório Passaporte com validade mínima de 6 meses após a data de regresso, cuja fotocópia deve enviar previamente para a agência.
*Chamada para a rede fixa nacional